Voltamos do Peru em 21 de outubro. Foram 10 (dez) dias super corridos de férias. Infelizmente, não deu tempo de conhecer tudo o que queríamos. Ficou faltando a Amazônia peruana - onde, dizem, ainda reside a última linhagem dos verdadeiros xamãs -, também não pudemos ir a Nazca e nem ao Cânion de Colca, o maior da América do Sul.
Nossa viagem começou em Puno, onde fica o Lago Titicaca. Não tem vôo direto do Brasil. Tem que ir para Lima e de Lima pegar um avião para Juliaca. De Juliaca ainda tem uns 45 minutos de estrada até Puno.
Ficamos em um hotel de frente para o lago, o Eco Inn, muito bom! O chato foi aguentar cada taxista que nos levava para lá ficar reclamando que era longe. E não era! Dava para ir a pé do centro até lá. Tipo uns 15 minutos de caminhada. Já fiquei um pouco com a impressão de que aquele povo local, ou pelo menos os taxistas, era meio preguiçoso. Mas essa é uma outra história.
Bom, no Lago Titicaca tem umas ilhas bem legais para visitar, mas as melhores são as dos Uros. São ilhas flutuantes, fabricadas pelos próprios índios, com juncos, cordas e palhas. Elas duram alguns anos e depois têm que ser substituídas por outras. Tem umas 2000 pessoas morando nessa situação. Vivem da pesca e, agora, do turismo.
Ficamos dois dias em Puno e depois fomos para Cusco. Para esse trajeto, pegamos um ônibus turístico, com guia bilíngue, que foi fazendo paradas nas cidades e pontos históricos do caminho. Vale a pena porque a paisagem é muito linda (montanhas com topo de neve) e tem umas ruínas super interessantes.
Chegando em Cusco, fiquei impressionada. Até lá, apesar da beleza das paisagens naturais, só tinha visto cidades muito pobres, com casebres de barro inacabados, aquela cor de terra, uma tristeza. Mas Cusco, por outro lado, pelo menos na parte turística, do Centro Histórico e da Plaza de Armas, se revelou a cidade mais bonita de todas que visitei.
A noite na Plaza de Armas pode ser confundida com a noite de qualquer cidadezinha do interior da Espanha. A catedral, com pinturas maravilhosas e ornamentos talhados em ouro, não deixa nada a perder de algumas igrejas da Itália. Assistimos uma missa nessa catedral, em espanhol, e engraçado que é muito parecida com o formato da missa que temos no Brasil. Como sempre, o sermão daquele dia se encaixou direitinho no que eu estava precisando ouvir.
Ficamos no hotel Andariego, bem no centro da cidade e muito aconchegante. O pessoal lá era uma simpatia e o nosso agente de viagens, o Fernando, ia todos os dias nos dar orientações sobre os passeios.
É de Cusco que sai a maioria dos passeios para as ruínas inkas e mais importantes pontos turísticos de visitação. De lá fomos para o Vale Sagrado, para Ollantaytambo e outras cidades interessantes, e também foi o ponto de partida para pegarmos o trem Vistadome para Aguas Calientes, onde ficam as ruínas de Macchupichu.
Passamos apenas uma noite e um dia em Aguas Calientes (Macchupichu), o suficiente para conhecer tudo. Em Aguas Calientes mesmo dá para aproveitar as termas, que ficam abertas até 21:00h. Para chegar às ruínas de Macchupichu, saindo de Aguas Calientes, é pertinho (9km), pode-se andar ou ir de ônibus. Já em Macchupichu, subimos até o portal do sol (a entrada da cidade pela trilha) e também subimos a montanha macchupichu, a mais alta daquela região, de onde se tem uma vista panorâmica das ruínas.
Gostei bastante de Macchupichu, mas visitei ruínas e paisagens mais bonitas no Vale Sagrado. Achei Macchupichu muito turístico, para falar a verdade. Enfim, acho que a expectativa era tanta que acabei me decepcionando um pouquinho. Mas valeu! Foi legal!
De Aguas Calientes voltamos para Cusco, ficamos mais um dia por lá e depois pegamos um avião para Lima, onde aproveitamos os últimos dias de férias. Lima parece São Paulo, é uma capital como outra qualquer, super movimentada, tem o shopping Larcomar, tem fastfood, tudo normal. Mas também tem museus ótimos, como o Museu do Ouro e o Museu Arqueológico. Neste último, chegamos a passar um dia inteiro e não conseguimos ver tudo, porque o museu fechou com a gente dentro. São peças de porcelana, ouro, tecidos, tudo de épocas anteriores à civilização inka. Imperdível também é o museu da Inquisição, que fica pertinho da Plaza de Armas de Lima.
No dia em que visitamos o museu estava tendo uma manifestação de pessoas pró e contra o aborto. Acho que ia rolar alguma espécie de plebiscito. As pessoas todas seguravam cartazes, xingando uns aos outros, cada partidário de um lado, batalhão de choque... E eu e o Marcio lá no meio, tentando sair da rua do museu. Foi engraçado. Teve uma hora que os ânimos estavam tão inflamados que nos vimos cantando junto, para nos infiltrar: "no a la muerte, si a la vida! no a la muerte, si a la vida!" Hilário.
A viagem foi boa. Mas voltei um pouco triste também. De ver tanta pobreza, de pensar como alguns têm tanto e outros não têm nada. Isso fica muito evidente, principalmente nas cidades menores do Peru. O nordestino brasileiro é rico perto daquele povo. E existe muita desigualdade racial também. Os poucos brancos são os que dominam os melhores empregos. Os índios, que são 90% da população (pelo menos aparentemente) ficam sempre com os trabalhos braçais e menos qualificados. E não conseguem eleger um presidente que os represente, como aconteceu na Bolívia. No Peru, vendo a direita dominar, chego a me sentir agredida. Será que se pode falar em democracia em um país em que a maioria pobre não tem informação ou educação suficiente para qualificar melhor seu direito de voto?